INTERCÂMBIO: Às vezes pode parecer um sonho distante
- Marcelo Moreira de Jesus (marcelo.jesus@usp.br)
- 22 de mar. de 2015
- 5 min de leitura

Às vezes pode parecer um sonho distante ou um projeto muito audacioso, mas partir para outro país para estudar é um experiência muito enriquecedora e viável.
Durante a Graduação, todos nós da FOUSP temos a possibilidade de nos programar para fazer um Intercâmbio Acadêmico e, assim, entrar em contato com a Odontologia fora do Brasil. A experiência que eu tive com o programa federal Ciências sem Fronteiras foi realmente positiva e, compartilhando a minha experiência, espero que outros colegas da FOUSP também embarquem para representar a Odontologia brasileira em territórios internacionais.
Para que todo o projeto dê certo, eu recomendo, antes de tudo, FOCO: determinar qual país quer ir, melhor período e quanto tempo ficar. Estas são etapas iniciais que devem ser pensadas com atenção e seriedade. Na minha experiência, eu respondi a essas três perguntas da seguinte maneira: Para onde quero ir?
R.: França! Qual melhor período da minha graduação para ir?
R.: No meu 4º ano. Quanto tempo quero ficar?
R.:1 ano.
Estas respostas estão relacionadas a vivência e realidade de cada um. Não há regra a seguir, não há melhor ou pior país para se viajar, não há melhor ou pior semestre para escolher. (No programa Ciências sem Fronteiras, há sim a obrigatoriedade de ficar no mínimo um ano e eu sei também que a maioria dos editais não aceitam alunos que não tenham concluído 20/100 do curso, ou tenham muitas reprovações. Mas tudo isso é ajustável.) Deve-se sempre ficar atento aos editais lançados. E aí sim começa a segunda etapa do processo: cumprir algumas (às vezes muitas) obrigatoriedades para ser selecionado pelos órgãos que custeiam os programas. Devemos mostrar interesse, sobretudo, dados e certificados que provem que somos aptos a participar de um intercâmbio como bolsista. Resumindo, devemos cumprir as exigências dos editais: desempenho acadêmico satisfatório, conhecimento e línguas estrangeiras, documentações, etc... Antes mesmo de partir para o intercâmbio acadêmico, realizei, entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013, um intercâmbio cultural para Europa e fiquei 30 dias em Paris para aperfeiçoar estudos da língua francesa. Após regressar da França em fevereiro de 2013, decidi dar início ao processo de intercâmbio acadêmico pelo Programa Ciências Sem Fronteiras.
O processo começou exatamente em fevereiro 2013 e foi até o final de junho: lançamento do edital, continuação do estudo da língua, realização da prova de proficiência, envio de documentos acadêmicos, aceitação pela CAPES da minha candidatura, aceitação da Université de Lille 2 para a Faculdade de Odontologia de Lille, solicitação do visto de 1 ano junto a Embaixada Francesa, pesquisa e compra de passagem de Ida, e, finalmente, a partida.Ufaa... Parece muuita coisa, mas tudo passa rápido e não é tão difícil quanto parece.
Chegando à França (Lille, NordPas-de-Calais), estava previsto um curso de 2 meses de Francês Intensivo e Imersão na Cultura Francesa. Todos os brasileiros aprovados neste edital fizeram este curso juntos. Tinham muitos estudantes de Engenharia, muitos de Arquitetura, alguns poucos de Medicina, uma colega de Farmácia e somente eu de Odontologia. Neste curso conhecemos também intercambistas chineses e uma colega russa. Este período de adaptação foi muito enriquecedor, pois eu sentia que a todo o momento eu estava passando por um crescimento pessoal e cultural: desde as festas e jantares na residência universitária até as aulas de Cultura e Sociedade francesa eu aproveitei muito para fazer amizades e praticar o francês e inglês. Infelizmente não pratiquei muito meu espanhol, tendo dificuldades até hoje com essa língua. Havia possibilidade também de fazer pequenas viagens durante os finais de semana. A escola propunha alguns passeios pelo norte da França, visitas a museus, restaurantes típicos, etc. Foi realmente um período inicial muito agradável e cheio de informações. Todas as questões práticas de viver sozinho e em outro país também se concentraram para serem resolvidas nos dois primeiros meses (Julho e Agosto).
Na primeira semana de Setembro, comecei o 4o ano da Faculté de ChirurgieDentaire de Lille. Desde o primeiro momento fui muito bem recebido pelos professores, funcionários e graduandos. Os alunos foram, no início, meio tímidos. Mas eu percebi que eles tinham também muitas curiosidades sobre o Brasil e, então, eu mesmo fui puxando amizades e me apresentando. Muitos dias eu também estava acompanhado de duas colegas estrangeiras (uma portuguesa e outra canadense) que estavam também na faculdade como intercambistas. Assistíamos aulas teóricas, por nós escolhidas e fazíamos observação das vivências clínicas de 2ª a 5ª de manhã. Os professores demonstraram confiança em mim, porque eu já havia passado por muitas disciplinas clínica no Brasil. Eles indicaram algumas aulas teóricas e workshops que eu poderia fazer juntos aos alunos do quarto ano, e tudo foi muito enriquecedor academicamente.
Após o final de Setembro, eu já havia sido liberado para clinicar no setor de urgência e, em Outubro, para clinicar nas demais disciplinas clínicas por mim escolhidas: Dentística/Endodontia, Cirurgia Buco Dento Alveolar, Periodontia e Pediatria. Foi muito interessante perceber o funcionamento das clínicas, as diferenças de protocolos, de relação profissional-paciente, de professor-aluno, o sistema de saúde francês. Um exemplo de diferença de funcionamento da clínica é que TODOS os materiais, instrumentais e EPIs utilizados nos tratamentos eram disponibilizados pela faculdade. Os alunos por lá tomavam também algumas decisões sozinhos, eram mais autônomos. Não tinham tantos professores e doutorandos disponíveis para auxiliar e tirar dúvidas a todo o tempo como há na USP. Consegui atuar bem junto aos alunos de lá, que se ajudam muito e que realmente revisam a matéria antes de entrar na clínica para atender os pacientes.
Durante os meses, fui levando a faculdade (aulas, clínicas, provas) e outras atividades também: frequentava a piscina e me matriculei no curso de tênis da faculdade; ia a festas e fazia viagens pela Europa quando sobrava um dinheiro da bolsa e quando os horários permitiam. Fiz muitos amigos de outras nacionalidades que também eram intercambistas: espanhóis, canadenses, tchecos, equatoriano (meu melhor amigo). Todos agregaram muito na minha experiência e me ajudaram muito durante o período longe da minha família e amigos brasileiros. Os franceses que fiz amizade continuam bons amigos com quem troco mensagens pela Internet. Três deles vieram já me visitar no Brasil e se encantaram com Rio de Janeiro e com São Paulo. Infelizmente não tiveram a oportunidade de conhecer a FOUSP porque estavam “turistando” por outros cantos da cidade. Um outro, que não faz Odontologia disse que virá me visitar em 2016. Meu intercâmbio se finalizou em Julho de 2014, retornei ao Brasil e retomei a graduação da FOUSP. Para mim, a readaptação na minha própria cidade de origem (São Paulo) foi mais difícil do que a adaptação em Lille. O clima muda muito, os costumes, a dinâmica da cidade... Muda tudo. Desde a volta tento comparar meu país com a França para tirar algo positivo da análise. São duas culturas muito diferentes, construções sociais e históricas muito diferentes e relações interpessoais também muito distintas. Com tais considerações, chegamos a conclusões mais inteligentes e ideias de atuação mais interessantes. Atuação em política, na carreira e na vida pessoal também.
De volta à Graduação em Agosto de 2014, encontrei problemas para conseguir validar as disciplinas que cursei lá. Mesmo sabendo que a USP dificilmente aceita validar disciplinas cursadas fora do país, eu tentei validar Pediatria e Cirurgia, porém a Comissão de Graduação negou a validação. Cursarei normalmente as disciplinas e terei os conhecimentos adquiridos no intercâmbio como vantagens de aprendizagem. Muitos professores da FOUSP me elogiaram pelo intercâmbio feito e são poucos os que ainda menosprezam a experiência. Porém é importante pontuar que estes últimos existem e ainda não entenderam a importância da internacionalização. Me coloco a disposição de todos que queiram conversar mais sobre Intercâmbios, lembro que existe a Comissão de Internacionalização da FOUSP e a ela também fico a disposição para qualquer atividade e esclarecimento. Aproveito para, oficialmente, agradecer a professora Ana Cecília Correa e a funcionária Anna Laura Canuto que também contribuíram para que minha experiência fosse tão positiva.
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